Hugo Motta Rejeitado, Congresso em Crise e um Brasil nas Ruas: O Que Isso Pode Significar para 2026
| Hugo Motta - Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil |
Por Fred Boechat
Nos últimos dias, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) , tem se tornado figura central de um desgaste político profundo, com reflexos diretos na opinião pública e um impacto potencial duradouro nas eleições gerais de 2026 .
A chamada “semana mais difícil” de sua gestão culminou em episódios que, somados, revelaram um presidente fragilizado institucionalmente , incapaz de conduzir seu papel como julgado neutro entre forças divergentes dentro e fora do Parlamento.
Do Plenário à Praça: Um Cresce Insatisfação Popular
No último domingo (14/12), milhares de brasileiros saíram às ruas em todo o país para protestar contra o projeto que reduz as penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro — incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro — e contra a atuação do Congresso no episódio, tendo Motta como alvo principal. As manifestações ecoaram slogans como “ Congresso, inimigo do povo ” e “Fora Hugo Motta”, com adesão significativa de movimentos sociais, partidos de esquerda e até artistas consagrados que trouxeram a manifestação pública de apoio aos protestos.
Protesto contra projeto de lei que propõe reduzir as penas das condenações pelos atos de 8 de janeiro de 2023, em São Paulo, Brasil 14 de dezembro de 2025 REUTERS/
O PL da Dosimetria , aprovado pela Câmara nesta semana, foi interpretado pelos críticos como uma tentativa de reduzir a probabilidade pelos crimes relacionados ao golpe de 8 de janeiro, o que impulsionou ainda mais a ocorrência popular e ampliou o discurso de crédito à Casa.
Decisões Controversas e Tratamento Diferenciado
A percepção de que Motta tem agido com critérios divergentes diante de protestos aprofundou uma crise de legitimidade. Enquanto ocupações anteriores protagonizadas por deputados de direita — incluindo longa obstrução do plenário por mais de dois dias — não resultaram em punições severas e, em alguns casos, terminaram em fotografias com os manifestantes, uma recente intervenção contra o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) resultou em ação truculenta da Polícia Legislativa, com retirada à força do parlamentar e a interrupção da transmissão da TV Câmara.
A justificativa oficial de que a retirada de jornalistas se deu por “questões de segurança” foi recebida com ceticismo por sindicatos e entidades de imprensa, que viram na medida um cerceamento ao direito de informação e uma forma de censura. Veículos de imprensa chegaram a anunciar ações judiciais contra o presidente da Câmara.
Nas redes sociais, a narrativa crítica à atuação de Motta se intensificou: publicações apontam perda de controle sobre os acontecimentos no plenário, agressões a jornalistas e uma imagem pública fortemente negativa, com milhões de menções predominantemente desfavoráveis.
Fragilidade Política e Perda de Autoridade
A crise expôs também a fragilidade política interna de Motta. Comentários de parlamentares e observadores sugerem que ele tem dificuldades em consensos articulares e manter a autoridade diante dos grupos mais fortes dentro da própria Câmara, inclusive em comparação com o ex-presidente da Casa, Arthur Lira, que continuaria a desfrutar de maior respeito entre colegas.
Além disso, sua tentativa de classificar pautas polêmicas como “tóxicas” e priorizar temas menos controversos não tem sido suficiente para enganar a opinião pública e os setores críticos — muitos enxergam isso mais como sinal de recuo diante de pressão do que de liderança firme.
Consequências para 2026
O desgaste de Hugo Motta pode ter efeitos relevantes para as eleições de 2026 , especialmente considerando:
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Aumento da polarização: a percepção de que a Câmara estaria favorecendo interesses partidários ou de grupos específicos alimentando o discurso de insatisfação democrática.
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Impacto nas candidaturas: Motta pode sofrer resistências dentro de sua base eleitoral e alianças fragilizadas com setores do centrão e da direita que agora o veem como um presidente incapaz de proteger seus interesses de forma eficaz.
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Narrativas eleitorais: adversários políticos podem capitalizar o sentimento de “congresso inimigo do povo”, posicionando-se como defensores de reformas e de uma postura mais vigorosa contra impunidades e favorecimentos.
Em suma, os episódios recentes não apenas diminuíram a imagem de Hugo Motta como presidente da Câmara, mas também forneceram um panorama de fundo crítico para as campanhas de 2026, elevando temas de responsabilização institucional, transparência e o papel da sociedade civil no controle dos poderes republicanos.
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Fred Boechat é jornalista e analista político.
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