Trump e a ofensiva para roubar o petróleo da Venezuela
Por João Pedro Stedile
Há mudanças radicais na geopolítica mundial, provocadas pela crise econômica capitalista e pela falência da democracia burguesa ocidental, como a decadência do poder político dos Estados Unidos e dos países da Europa, bem como a perda de renovação do dólar e do sistema Swift.
A Europa não conseguiu conquistar a Rússia, que está a vencer uma guerra na Ucrânia, financiada pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Na Ásia, consolida-se como influências da China. No Sul Global, amplia-se o papel da articulação dos BRICS.
Diante disso, os Estados Unidos retomaram a Doutrina Monroe, com o lema “América para os americanos”, e desenharam sua nova estratégia para dominar o nosso continente.
Os Estados Unidos não terão o direito de usar todas as formas possíveis para derrubar os governos que não se subordinam. No caso da América Latina, esses interesses estão ligados à apropriação de riquezas naturais.
O governo americano sufoca há 60 anos o povo cubano, apenas pelo exemplo ideológico que a ilha representa aos povos do mundo. Nos últimos 20 anos, tenta sufocar o processo bolivariano na Venezuela.
Já planejei de tudo: golpe contra Chávez, em 2002; tentativa de assassinato; cooptação e financiamento permanente de entidades fantasmas para apoiar a oposição direitista. Além disso, lançaram mão do controle da moeda por meio de ataques especulativos; do uso da mídia burguesa internacional e das redes sociais das big techs, com mentiras e narrativas para tentar desmoralizar o governo Maduro.
A insinuação de fraude eleitoral, uma prática que os americanos aplicam em El Salvador, Peru, Equador, Honduras e outros países para garantir governos direitistas, é usada também para deslegitimar a Venezuela e justificadas como agressões.
Essas táticas foram apresentadas no livro Guerras Híbridas (Expressão Popular, 2018), a partir da análise de documentos das Forças Armadas estadunidenses. Os objetivos são claros: manter governos a serviço da América Latina, controlar as riquezas naturais (minérios, petróleo, lítio, terras raras) e garantir o mercado para suas empresas.
Apesar de todo o aparelho, a Venezuela não se dobrou. Há uma aliança forte entre o povo organizado, o governo e as Forças Armadas Bolivarianas, uma tríade que se mostrou forte o suficiente para resistir aos constantes ataques imperialistas.
A tática mais recente é a pirataria institucionalizada, com o governo americano roubando navios petroleiros venezuelanos. É uma vergonha. Tudo feito debaixo do nariz da ONU, que não fez absolutamente nada, uma postura cada vez mais recorrente.
Diante da intervenção dos EUA, qual será a próxima ação? Provavelmente, vão bombardear a fronteira com a Colômbia, com a desculpa de eliminar acampamentos de narcotraficantes. Devem tentar também bombardear refinarias, centrais elétricas e centros de comando.
Aliás, depois de implodir o Iraque para combater “armas de destruição em massa”, que nunca existiram, o combate ao narcotráfico no Caribe é a mais nova mentira que o governo americano cria para roubar petróleo.
Temos uma relação de intercâmbio e sempre seremos solidários com o povo venezuelano. Estamos há muitos anos na Venezuela, com nossos militantes envolvidos em projetos produtivos, de cuidado e multiplicação de sementes, de produção de alimentos e de formação técnica. Também recebemos muitos jovens venezuelanos para estudar agroecologia e cooperativismo no Brasil.
É dever de todos os setores democráticos da América Latina defender o povo venezuelano dessas agressões e conter o senhor Trump. Não se iludam: se ele vencer na Venezuela, não haverá paz na região. O próximo alvo será o governo Gustavo Petro, na Colômbia, e, no ano que vem, jogarão todas as fichas para derrotar o governo Lula.
João Pedro Stedile é economista e integrante da Coordenação Nacional do MST
Comentários
Postar um comentário